Por Fernanda Alvarenga Lopes

No artigo anterior, que você pode ler clicando aqui, começamos a conversar sobre como precificar o nosso produto e/ ou serviço. Sim, parece difícil. Mas nem tudo o que parece é. Na verdade o que a gente mais faz se chama: procrastinação e autossabotagem.
E eu estou inclusa nisso viu!
Semana passada meu primo me convidou para participar de uma feira virtual de Natal. Achei o máximo e disse sim logo de cara. Ao conversarmos sobre o que eu venderia, surgiu a pergunta fatal: “Quanto custa”? Enrolei. Mas claro que ele não deixou de lado. E nisso, como um bom vendedor e professor de exatas que é, me ajudou a montar os custos rapidinho.
Ele me deu duas sugestões: A rápida e a certa.
A rápida: Regra de 3
Ele me perguntou quanto é o valor da minha hora de trabalho. Respirei e fiz cara de “ué”. Então ele perguntou diferente. Quanto eu preciso ganhar por hora para pagar as minhas contas? Bom, aí deu uma clareada.
Minhas contas somam R$ 2.800,00 ao mês. Como sou mãe solo e colaboro na manutenção da casa, tenho disponibilidade de 8 horas por dia de 2ª a 6ª-feira. Ou seja: 40 horas por semana. Fomos às contas:
40 horas por semana X 4 semanas no mês = 160 horas
2.800 dividido por 160 = 17,50
Então R$ 17,50 é o valor mínimo da minha hora de trabalho.
Mas… a cada peça que eu fizer, eu coloco esse valor multiplicado por 3.
Ou seja: R$ 17,50 x 3 = R$ 52,50 -> esse é o valor ideal pela minha hora do trabalho.
Na prática: Para uma toalha de crochê que levei cerca de 2 horas de trabalho o valor final de venda seria de R$ 105,00.
A certa: O preço das coisas
Eu achei lindo poder cobrar mais de 100 reais por uma peça com cerca de 2horas de trabalho. Mas no fundinho, bateu aquela insegurança de que não iria vender porque o valor está alto. Então ele pediu para eu segurar o “tcham” e olhar com atenção as contas.
Para estabelecer o preço da forma correta é preciso saber:
– Despesas fixas – Infraestrutura;
– Custos variáveis – recursos sociais;
– Materiais;
– Hora de trabalho;
– Fundo de reserva e fluxo de caixa;
– Custos de logística (retirada/ entrega).
No artigo anterior tem uma explicaçãozinha do que são esses itens, vale a pena reler. 😉
Para mim, hoje, ficou assim:
– Despesas fixas/ Infraestrutura: R$ 2100,00
– Custos variáveis: R$ 520,00
– Materiais: R$ 180,00
– Hora de trabalho: R$ 17,50
– Fundo de reserva: Não tenho
– Custos de logística: o cliente retira
Ele já fez aquela cara e disse:
– Precisa pensar no futuro e fazer fundo reserva. O custo de logística também é você sair de casa e comprar o material. Se liga!
Engoli seco. Afinal, ele tem razão e vou melhorar. Mas, pra gente aqui, o que fizemos depois?
– Fê, qual peça você mais vende?
– Toalhas bordadas de lavabo.
– Para cada peça, qual o custo bruto?
– Não sei…
Fizemos então a seguinte conta:
– Para as Despesas Fixas + Custos Variáveis, somamos e dividimos pelo tempo de trabalho dedicado ao mês. Que ficou: R$ 16,40.
– Material: R$ 9,00
– Hora de trabalho: R$ 17,50
Somados os valores, total para venda: R$ 43,00.
Mundo Ideal e Mundo Real
Quando eu me dei conta das contas, em que olhei os valores reais daquilo que preciso para sobreviver, comecei a entender porque dá ansiedade no final do mês. O fantasma do saldo negativo. Afinal, eu gastava mais do que recebia. Havia mais saída do que entrada de dinheiro.
Eu sei que minhas colegas artesãs vão se identificar. E vão também fazer coro com: “Mas se eu aumentar o preço, ninguém compra”. Há verdades e mentiras nessa frase. Aí voltamos a questão da procrastinação e autossabotagem do primeiro parágrafo.
No fundo a gente sabe que vende barato o nosso trabalho. Por isso a procrastinação. Evitamos ao máximo olhar as contas e fazer os cálculos reais. É o exercício da autossabotagem, pensando que ninguém vai pagar o que nosso trabalho realmente vale.
Porém, aqui fica a minha provocação: Será mesmo?
Ou será que está na hora da gente dar uma mudada e melhorada nos produtos que oferecemos? Basta ir numa loja um pouco mais refinada que poderemos comparar produtos inferiores e industrializados pelo dobro do preço que cobramos. Então, há onde reduzir os custos e aumentar os lucros. Aliás, reparou que nessas contas nem colocamos o lucro?
No próximo artigo vamos explorar essa questão de Preço x Valor. Bora?
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Estamos preparando outros materiais para dar continuidade a esse conteúdo.